SAÚDE
A importância da saúde mental na pandemia
   
Psicóloga esclarece dúvidas e dá dicas sobre saúde mental durante a pandemia.

Por Catiéle Vogt
01/04/2021 16h46

A pandemia do coronavírus já dura mais de um ano e, durante esse período, a liberdade de ir e vir e o convívio social foram limitados. Para cumprir a quarentena de maneira correta, o distanciamento social foi indicado por governos e instituições de saúde no mundo todo. No entanto, a solidão causada por essas restrições levantou outra preocupação: a saúde mental na pandemia. Com uma nova onda de casos crescendo, as medidas de prevenção para COVID-19 ainda devem ser seguidas, mas o cuidado com o bem-estar psíquico deve ser levado a sério. Devido a isso, essa semana conversamos com a psicóloga e especialista em Saúde da Família do Posto de Saúde do município, Elise Julia Sehn, para nos ajudar com dicas  de como manter a saúde mental em dia, na situação em que nos encontramos hoje. 
Falar da pandemia tem sido um grande desafio. Isso porque ao mesmo tempo em que já estamos exauridos, cansados de ouvir tantas notícias e informações – geralmente pesadas e negativas, sabemos que ela ainda não acabou (e pelo que dizem os estudos e a nossa experiência cotidiana, ainda está muito longe disso), sendo que SIM, continua sendo necessário falar dela.
Conforme Elise, mesmo passado mais de um ano que estamos vivenciando uma série de mudanças, tivemos a esperança de não viver mais este momento, ele ainda se faz presente, e talvez, da forma mais intensa possível, como podemos acompanhar regional e localmente. “Sabemos que nas últimas semanas nosso município (bem como o estado, de maneira geral) tem sido afetado muito diretamente, de uma forma que muitos nem esperavam que aconteceria. E isso sem dúvidas tem implicado em nossa saúde mental, sempre tão importante, mas atualmente ainda mais em questão”, comenta. 
Então surgem alguns questionamentos sobre como podemos preservar – e melhorar nossa saúde emocional nesse momento? Como suportar essa situação, prolongada e cansativa, que não sabemos até quando perdurará? De onde tirar forças para seguir lutando e tendo esperança em meio a tudo isso?
A psicóloga explica, que não há uma resposta única ou uma receita mágica para essas questões. O que temos que observar, mais uma vez, é que as pessoas são diferentes, bem como seus modos de agir, reagir e enfrentar os problemas. “O que é um problema para mim, pode não ser para o outro e vice-versa. Então, mais do que nunca, devemos estar atentos a nós mesmos e aos outros. Observar o que está nos incomodando, o que não está fazendo bem no momento. Se for possível, nos afastamos disso. Se não for, procuramos meios de enfrentar e/ou suportar. E esses meios também dependem de cada pessoa. Recordo que em uma palestra com a psicóloga Débora Noal, ela fala que todos nós temos uma “caixinha de ferramentas” interior, que construímos ao longo da vida, e acessamos sempre que precisamos. E a dica nesse momento de pandemia é que possamos abrir nossa caixinha, vasculhar, ver o que tem dentro dela. Recordar de outros momentos difíceis que passamos em nossas vidas, e como enfrentamos estas situações. A quem pedimos ajuda? Como resolvemos problemas anteriormente? Quais recursos utilizamos? Essas serão as ferramentas de cada um para enfrentar esse momento”, relata.
Segundo ela, a orientação é que olhemos para os recursos que já temos, que mantenhamos as práticas de cuidado que já tínhamos antes da pandemia – mesmo que algumas precisem ser adaptadas a essa nova realidade. Isso é importante porque talvez não seja o momento para iniciar novos hábitos, totalmente diferentes dos que tínhamos antes, ou iniciar planos mirabolantes de mudança para nossa rotina e nossa vida. “Obviamente que muitos hábitos podem sim ter um espaço para começar a ser praticados – por exemplo, praticar uma atividade física, iniciar/retomar um trabalho manual, cultivar plantas, mudar a forma de trabalhar e/ou iniciar um novo empreendimento, etc. Mas para quem não fazia nada disso, e por alguma razão não tem conseguido fazer no momento, a dica mais importante é: não se cobre tanto, não se culpe se as coisas não estão saindo exatamente como o planejado. Pois realmente, o momento é ímpar, e não temos como ter o controle de tudo. A ansiedade pode estar fazendo parte do cotidiano, mas isso não quer dizer que ela seja um transtorno. Ela é uma emoção natural do ser humano, e esperada para o momento que estamos vivendo. Então com certeza muitas pessoas tem se sentido assim, e isso é absolutamente compreensível”, comenta.
No entanto, também observamos o aumento de adoecimento, que é quando a ansiedade, ou algum outro estado de humor se torna excessivamente intenso, dominando a maior parte do dia e da vida da pessoa. “Nessa situação, talvez seja o momento de ampliar sua caixinha de ferramentas, de conversar – mesmo que virtualmente – com outras pessoas, ou até mesmo de procurar ajuda profissional, que é fundamental quando sentimos que, sozinhos, não estamos encontrando recursos suficientes para dar conta das nossas emoções e comportamentos. E não tem problema algum assumir que não está bem, que precisa de ajuda. Todas as pessoas, em algum momento de suas vidas, passam, passaram ou passarão por isso. Também é absolutamente normal”, ressalta.
De acordo com Elise, a grande dica, independente de ter um estado de adoecimento instalado ou não, é cuidar da saúde mental, prevenir possíveis agravos. Buscar os recursos internos de enfrentamento dos problemas, realizar atividades que produzem bem-estar, ter momentos de lazer, de prática de atividades relaxantes e prazerosas. “Esses momentos, nem que representem alguns minutos do dia, apenas, ajudarão a aliviar o estresse e as tensões do dia a dia, que sabemos que afetam imensamente nosso organismo. O estresse é um fator que influencia diretamente a qualidade do sono, alimentação, humor e do próprio sistema imunológico. Assim, enfrentá-lo e reduzir seus danos ao organismo protege tanto nossa saúde física quanto mental. E isso não quer dizer que todos os dias da vida devem ser calmos e tranquilos, pois isso é completamente inviável”.  
O importante é que as pessoas possam conhecer o próprio corpo, identificar sinais de alerta, e buscar ajuda sempre que necessário. Lembrar também que muitas vezes se faz necessário se afastar de algumas pessoas, situações ou substâncias, vistas como tóxicas, bem como reduzir a frequência de acesso a noticiários ou redes que não fazem bem, por exemplo, buscando se aproximar e conectar mais com atividades e pessoas que nos fazem bem. 
E A PÁSCOA?
Como “comemorar” a Páscoa neste ano de 2021? 
Talvez imaginávamos que já estivéssemos livres do coronavírus, que já poderíamos, como é a tradição na maioria dos espaços e famílias, nos reunir e celebrar junto das pessoas que amamos. Mas, como estamos percebendo, a pandemia ainda não acabou (muito longe disso), exigindo que novamente adaptemos as nossas comemorações e celebrações. 
Conforme Elise, também temos o fato de que no nosso município, como em várias regiões, está vivendo um momento intenso, de muitas emoções, medos e perdas. “Obviamente nos mobilizamos, não somente com as nossas, mas também com as perdas das outras pessoas. Famílias enlutadas. Pessoas queridas adoecidas. Ou ainda, com medo frente à toda essa situação. Isso pode parecer triste ou sem sentido para muitas pessoas – talvez para a maioria de nós”, comenta.   
Esperança que neste ano pode se manifestar, por exemplo, na vacinação, que vem tomando forma - talvez não no ritmo que esperávamos enquanto país, mas expandindo gradualmente para faixas etárias maiores. Esperança de que as pessoas que partiram – bem como os familiares e amigos que ficaram – possam encontrar paz e conforto. Esperança que no próximo ano, na próxima Páscoa, talvez já possamos nos reunir com as pessoas que amamos para celebrar esta e outras datas importantes, abraça-las, dizer, olhando nos olhos delas, o quanto as amamos. “E então, acredito que talvez mais do que nunca sejamos gratos pelas oportunidades que temos, pelo abraços que pudemos dar e receber ao longo de nossas vidas – e pela esperança de que em breve novamente possamos fazer isso; pela esperança de que sim, este momento, como vários outros difíceis em nossas vida e em nossa história, vai passar. E que ficarão aprendizados também, se soubermos apreciá-los. Esse é um momento único. Assim como cada pessoa e cada sentimento”, destaca.
A psicóloga explica, que vale lembrar que cada um tem o direito de sentir e expressar o que está vivenciando. “Se para você o momento estiver exigindo a expressão de uma tristeza, de um luto, de uma perda, permita-se viver esse momento, chorar e expressar. Se o momento estiver te convidando a celebrar a vida, as pequenas conquistas diárias, a recuperação de um adoecimento teu, de um familiar ou amigo, celebra. Agradece. Se o momento estiver apenas exigindo uma pausa, uma oração, um momento de descanso e reflexão, faça isso”, reforça. 
Para finalizar, Elise deixa uma grande e valiosa dica para todos nós. “Enfim, a grande dica que fica é viver o momento presente, da forma como ele se apresenta. E lembrar que todas as pessoas tem dias ruins, momentos de tristeza, situações em que precisam procurar ajuda, e que isso é absolutamente normal. Assim como em alguns momentos podemos precisar da ajuda de outras pessoas, em outros podemos nós ser a pessoa que vai oferecer essa ajuda. E isso fala sobre um sentimento que talvez andava meio perdido e que cada vez mais precisa ser resgatado: a Empatia. Tanto falamos sobre ela, e talvez agora, mais do que nunca, precisemos colocar em prática. Empatia com o outro, e consigo mesmo. Ouvir e respeitar o outro, mas também escutar e cuidar de si mesmo, estar atento às próprias necessidades e as limitações. Afinal, cuidando de nós mesmos, também já estamos cuidando de quem amamos. E lembrar que, se nesse momento não é possível celebrar a Páscoa, ou outras datas importantes da forma como gostaríamos, talvez isso seja uma oportunidade de “inventar” outros modos de ver e viver, que talvez também podem ser bons e saudáveis”, finaliza. 
 


   

  

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