AGRICULTURA
A diversificação como incentivo para permanecer no interior
   
César Zitzke é um dos cerca de 20 produtores de leite do município de Sinimbu.

Por Betina Geller
23/07/2021 15h49

Estamos localizados em uma região que é tradicionalmente conhecida pela produção de tabaco, mas nos últimos anos temos visto isto mudar, muitas propriedades do interior tem optado por diversificar sua produção. É o caso de César Roberto Zitzke, de 30 anos, morador de Bela Vista, que há alguns anos optou pela produção de leite em sua propriedade. E hoje se divide entre os afazeres da sua propriedade e a função de vereador do município de Sinimbu.

César conta que tudo começou em 2011 quando ele e a esposa Alessandra decidiram que iriam permanecer no interior e trabalhar na propriedade da família. “Decidimos trabalhar na roça, mas com uma condição, a diversificação. Tivemos apoio dos meus pais e optamos pela produção de leite, por entender que era uma atividade em expansão e aumentaria muito o valor da propriedade”, conta César. Que apostou na produção de leite na qual o Brasil se destaca atualmente como o terceiro maior produtor no mundo. O Rio Grande do Sul também se destaca nesta lista sendo o terceiro maior produtor do país. 

Zitzke é um dos cerca de 20 produtores de leite do município de Sinimbu, que tem uma produção diária de cerca de 6.000 litros, gerando um montante de mais de 2.000.000 de litros anuais, e 500 dos cerca de 6.000 litros são produzidos pelo rebanho de 27 vacas da propriedade da família de César, que além do leite produz uma grande variedade de alimentos para subsistência e 25 mil pés de fumo que complementam a renda da família.

A rotina da família começa bem cedo pela manhã e as atividades giram principalmente em torno do rebanho e se estendem até a noite. Na época da colheita do fumo, César e a esposa se dedicam exclusivamente ao tabaco e os pais dele assumem o cuidado com as vacas para que eles possam colhê-lo nas horas menos quentes do dia.

Questionado sobre as dificuldades do interior nos dias atuais ele cita que elas sempre existem e é necessário ter muita criatividade para conseguir superá-las da melhor forma. “No momento nossa principal dificuldade é o valor dos insumos para próxima safra de tabaco, onde já se viu pagar R$160,00 em um saco de adubo e ureia ou R$800 em um galão de glifosato?! Além disso, o valor dos ingredientes para formular a ração também está caríssimo. O leite tem um bom valor, mas com os valores dos insumos nas nuvens estamos muito aquém do valor justo para a produção”, relata. Este que também foi o principal impacto da pandemia para a família. Com a alta inflação no valor dos produtos e o valor incompatível com as tabelas de preço de tabaco pago pelas fumageiras, os colonos foram afetados de forma indireta pela pandemia.

SUPERAÇÃO

“Tudo isso vale a pena” é assim que César descreve a forma que ele concilia a função de vereador com os afazeres da propriedade. Nos dias em que ele não está, a esposa e seus pais realizam todo o serviço sozinhos, sempre que é necessário eles ainda trabalham aos finais de semana para compensar os dias que ele não está em casa, fazendo serviços como o corte de pastagem, silagem e a colheita de fumo. “A rotina é corrida, saio muito de casa e muitas vezes não tenho hora para voltar, quando realizo visitas nas comunidades, aos munícipes, fiscalizando e auxiliando o município. Mas tudo isso vale a pena, pois tenho o suporte da minha esposa Alessandra, minha filha Cecília, e meus pais Siegfried e Silvani e quero auxiliar o município, pois entendo que tem coisa errada e posso contribuir como agricultor no desenvolvimento do mesmo, pois a final, somos mais de 90% agrícola e nada mais justo que investir na agricultura”, enfatiza o vereador.

Voltando no tempo ele lembra as dificuldades que enfrentaram no início da produção de leite, quando não tinham muito conhecimento sobre a produção e por vezes pessoas mal intencionadas e vendedores que apenas empurravam produtos e se aproveitavam do pouco conhecimento, mas tudo foi superado. Entretanto, o fato mais marcante para César aconteceu em setembro de 2014, quando ele e grande parte dos produtores da região vendiam o leite produzido na propriedade para a empresa IBR deixaram de receber pelo produto que vendiam, gerando grandes prejuízos. “Na época fizemos grandes investimentos na propriedade para que pudéssemos produzir leite e na época que tínhamos que pagar as parcelas do nosso investimento deixamos de receber pelo nosso produto. A conta não fechou e entramos em desespero, foram algumas noites sem dormir por causa de uma empresa mal conduzida e que até hoje não pagou a conta, quase desistimos da atividade, no entanto, levantamos a cabeça e fomos a luta para pagar nossas contas, pedimos ajuda e com o auxílio da produção de tabaco conseguimos pagar as contas. Por isso valorizo muito a cultura do tabaco, pois foi ela que nos “financiou” a atividade leiteira, com muita dificuldade no início, nossa gratidão a essa cultura, mas infelizmente  ela varia muito de um ano para outro”, finaliza.


   

  

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